Eu bem que quis escrever algo sobre essa foto, mas não consegui. Preferi colocar o texto da fotógrafa que fez a foto. Tem horas que, se já não sou bom pra falar, também me engasgo pra escrever.
"Eu venho fazendo muitas peguntas a respeito do casal que morreu abraçado após o colapso. Eu tentei desesperadamente, mas ainda não achei nenhuma pista a respeito deles. Eu não sei quem são ou qual a relação eles tinham.
Eu passei o dia inteiro do desabamento no local, assistindo aos trabalhadores serem retirados das ruínas. Eu lembro do olhar aterrorizado dos familiares - eu estava exausta mental e fisicamente. Por volta das 2h, encontrei um casal abraçado nos escombros. A parte inferior dos seus corpos estava enterrada sob o concreto. O sangue que saía dos olhos do homem corria como se fosse uma lágrima. Quando os vi, não pude acreditar. Era como se eu os conhecesse - eles pareciam ser muito próximos a mim. Eu vi quem eles foram em seus últimos momentos, quando, juntos, tentaram salvar um ao outro – salvar suas vidas amadas.
Cada vez que eu olho para essa foto, me sinto desconfortável - ela me assombra. É como se eles estivessem me dizendo, nós não somos um número - não somos apenas trabalho barato e vidas baratas. Nós somos humanos como você. Nossa vida é preciosa como a sua, e nossos sonhos são preciosos também.
Eles são testemunhas nessa história cruel. O número de mortos agora passa de 750 (nesta quinta-feira, 9/5/2013, já chega a quase 1000). Que situação desagradável nós estamos, onde humanos são tratados apenas como números.
Essa foto me assombra todo o tempo. Se as pessoas responsáveis não receberem a punição merecida, nós veremos esse tipo de tragédia de novo. Não haverá consolo para esses sentimentos horríveis. Cercada de corpos, eu senti uma imensa pressão e dor nas duas últimas semanas. Como testemunha dessa crueldade, tenho necessidade de compartilhar essa dor com todos. Por isso eu quero que essa foto seja vista."
Taslima Akhter, fotógrafa e ativista bengalesa, autora da foto