quinta-feira, janeiro 31, 2013

Saquear Brasília



Tags: Capital Inicial

sexta-feira, janeiro 25, 2013

Longe

Não é a Lua grande num céu sem nuvens
Que mais aperta o coração
Mas é ela que assim denuncia
Esse tempo de solidão

Não é a madrugada que se anuncia
Trazendo a brisa da escuridão
É só a saudade do encontro dos olhos
A alagar essa emoção

quinta-feira, janeiro 24, 2013

O filho ingrato

Um conto dos irmãos Grimm

 
Era uma vez um homem e sua mulher, que estavam sentados à frente de sua casa prontos para começar a comer uma galinha assada. Quando o homem viu seu velho pai se aproximando, rapidamente escondeu a galinha, pois não queria dividi-la com ele. O velho chegou, bebeu água e se foi.

O filho então foi buscar a galinha assada e pô-la na mesa, mas ela havia se transformado em um grande sapo, que saltou para o rosto dele, onde ficou grudado para sempre.

Se alguém tentasse tirar o sapo do rosto do homem acabaria desistindo ante o olhar ameaçador do animal, por isso ninguém tinha coragem de tocá-lo. Ainda por cima, o filho ingrato tinha de alimentar o sapo todos os dias; caso contrário, este comeria parte de seu rosto. E assim o homem passou o resto da vida, indo a um lugar a outro sem sossego.

quarta-feira, janeiro 23, 2013

Para ser grande

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


Fernando Pessoa como Ricardo Reis

domingo, janeiro 20, 2013

segunda-feira, janeiro 14, 2013

The Middle East - Pig Food


Ao coração que sofre

Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.

Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.

E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.



Olavo Bilac

sábado, janeiro 12, 2013

As boas coisas da vida - Rubem Braga

Uma revista mais ou menos frívola pediu a várias pessoas para dizer as “dez coisas que fazem a vida valer a pena”. Sem pensar demasiado, fez esta pequena lista:

- Esbarrar às vezes com certas comidas da infância, por exemplo: aipim cozido, ainda quente, com melado de cana que vem numa garrafa cuja rolha é um sabugo de milho. O sabugo dará um certo gosto ao melado? Dá: gosto de infância, de tarde na fazenda.

- Tomar um banho excelente num bom hotel, vestir uma roupa confortável e sair pela primeira vez pelas ruas de uma cidade estranha, achando que ali vão acontecer coisas surpreendentes e lindas. E acontecerem.

- Quando você vai andando por um lugar e há um bate-bola, sentir que a bola vem para o seu lado e, de repente, dar um chute perfeito – e ser aplaudido pelos serventes de pedreiro.

- Ler pela primeira vez um poema realmente bom. Ou um pedaço de prosa, daqueles que dão inveja na gente e vontade de reler.

- Aquele momento em que você sente que de um velho amor ficou uma grande amizade – ou que uma grande amizade está virando, de repente, amor.

- Sentir que você deixou de gostar de uma mulher que, afinal, para você, era apenas aflição de espírito e frustração da carne – a mulher que não te deu e não te dá, essa amaldiçoada.

- Viajar, partir…

- Voltar.

- Quando se vive na Europa, voltar para Paris, quando se vive no Brasil, voltar para o Rio

- Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte – o assim chamado descanso eterno.



Rubem Braga

Tags: 100 anos de Rubem Braga; Crônicas

quinta-feira, janeiro 10, 2013

Diversão

Quando eu estava na faculdade sempre me via estudando as matérias que não precisava, pois já tinha passado, e ficando naquelas que eu precisava estudar e não estudava. As que eu já tinha passado eram as divertidas ou que os professores faziam parecer assim.

Quando eu era molecote, cheguei a ter uma “fábrica” de pipas. Eu cuidava do design, das dobraduras, das colagens com grude de polvilho. Era divertido. A parte chata, fazer varetas de bambu, eu deixava para o Keller.

Quando me chamaram pra voltar a atuar em empreendimentos imobiliários, topei na hora. É divertido. Faço com prazer e um sorriso escancarado. Sei fazer e sei o quanto me divirto. Me faz lembrar das pipas que, obviamente, só seriam legais se subissem aos céus da Santos Dumont com Princesa Isabel.

Outro dia postei no Facebook um artigo da Patrícia Melo (na IstoÉ) sobre Entretenimento. Ou seja, Diversão. Agora topei com essa palestra do Rafael Kenski no TED (que é um fórum espetacular sobre coisas atuais e futuras). E é sobre: Diversão.

Olha só: são treze minutos. Nesse tempo, dependendo da hora, seu Facebook vai estar cheio de novos posts. Clarices Lispectors, Caios Abreus, defensores e atacantes do BBB, gente querendo a pele do Lula, etc. Tente ver esse vídeo e pense: O que diverte você?


Wait for Me



Tags: Blade Runner; Vangelis

quarta-feira, janeiro 09, 2013

Take the Box



Tags: Amy Winehouse

terça-feira, janeiro 08, 2013

Blade Runner Blues



Tags: Harrison Ford; Ridley Scott; Vangelis

Carne

Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas
Que importa se existe entre nós muitas montanhas?
O mesmo céu nos cobre
E a mesma terra Iiga nossos pés.
No céu e na terra é tua carne que palpita
Em tudo eu sinto o teu olhar se desdobrando
Na carícia violenta do teu beijo.
Que importa a distância e que importa a montanha
Se tu és a extensão da carne
Sempre presente?


Vinícius de Moraes

Where Are We Now?



Tags: David Bowie; 66

segunda-feira, janeiro 07, 2013

E depois



É dia de te ver, que sorte grande, sim senhor...
É mamão no mel, algodão doce azul
Que bom, acende uma alegria tipo curumim
Por causa do que vibra dentro de você
Você não tem idéia como eu sou feliz
Às cinco eu passo aí para um sorvete
Levo o disco do Bob que você me pediu
E aí... a gente vai passear
E aí... a gente vai namorar
E depois... e depois... e depois...


Tags: Seu Jorge

sábado, janeiro 05, 2013

Desejo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.


Victor Hugo