Não canto a noite porque no meu canto
O sol que canto acabara em noite.
Não ignoro o que esqueço.
Canto por esquecê-lo.
Pudesse eu suspender, inda que em sonho,
O Apolíneo curso, e conhecer-me,
Inda que louco, gêmeo
De uma hora imperecível!
Fernando Pessoa
NO MUNDO DOS BLOGS. Todo mundo está se ligando, se conectando, se blogando. Os sinais de fumaça, os tambores, os pombos-correio, as cartas de papel, os telefonemas. Os blogs. Para começar, para ver como é que fica, vamos falar de tudo...
quarta-feira, novembro 30, 2011
domingo, novembro 27, 2011
A despedida
Nós nos abraçamos.
Eu toco em tecido rico
Você em tecido pobre.
O abraço é ligeiro
Você vai para um almoço
Atrás de mim estão os carrascos.
Falamos de tempo e de nossa
Permanente amizade. Todo o resto
Seria amargo demais.
Bertolt Brecht
Eu toco em tecido rico
Você em tecido pobre.
O abraço é ligeiro
Você vai para um almoço
Atrás de mim estão os carrascos.
Falamos de tempo e de nossa
Permanente amizade. Todo o resto
Seria amargo demais.
Bertolt Brecht
sexta-feira, novembro 25, 2011
quinta-feira, novembro 24, 2011
Retrato de Maria Lúcia
"Você é tão acostumada
A sempre ter razão
Você é tão articulada
Quando fala não pede atenção
O poder de dominar é tentador
(...)"
Trecho de "Fogo", do Capital Inicial
Tu vens de longe; a pedra
Suavizou seu tempo
Para entalhar-te o rosto
Ensimesmado e lento
Teu rosto como um templo
Voltado para o oriente
Remoto como o nunca
Eterno como o sempre
E que subitamente
Se aclara e movimenta
Como se a chuva e o vento
Cedessem seu momento
À pura claridade
Do sol do amor intenso!
Vinicius de Moraes
Tags: Capital Inicial; Vinícius de Moraes; poder; razão; intenso; paixão; eterno; tentação; longe; atenção
A sempre ter razão
Você é tão articulada
Quando fala não pede atenção
O poder de dominar é tentador
(...)"
Trecho de "Fogo", do Capital Inicial
Retrato de Maria Lúcia
Tu vens de longe; a pedra
Suavizou seu tempo
Para entalhar-te o rosto
Ensimesmado e lento
Teu rosto como um templo
Voltado para o oriente
Remoto como o nunca
Eterno como o sempre
E que subitamente
Se aclara e movimenta
Como se a chuva e o vento
Cedessem seu momento
À pura claridade
Do sol do amor intenso!
Vinicius de Moraes
Tags: Capital Inicial; Vinícius de Moraes; poder; razão; intenso; paixão; eterno; tentação; longe; atenção
quarta-feira, novembro 23, 2011
Publicidade e arte
Sou daqueles que sempre preferiram os intervalos comerciais aos programas ruins da TV. Um dia já me passou pela cabeça trabalhar com publicidade. Acho que o que me atraía mesmo era a porção arte que ela carrega, mas que a porção comercial.
Não é o caso agora de fazer publicidade ao automóvel em apresentação (mais uma vez, o Júnior Degani indica belezas), mas de ressaltar a arte aí carregada, com tanta suavidade. As imagens ligadas à música maravilhosa contam a arte que os humanos tanto prezam. Aqui, não interessa mais se as vendas aumentarão. Se já estou publicando no meu blog, este vídeo já está cumprindo seu objetivo: ligar coisas belas e que fazem bem ao produto.
Não é o caso agora de fazer publicidade ao automóvel em apresentação (mais uma vez, o Júnior Degani indica belezas), mas de ressaltar a arte aí carregada, com tanta suavidade. As imagens ligadas à música maravilhosa contam a arte que os humanos tanto prezam. Aqui, não interessa mais se as vendas aumentarão. Se já estou publicando no meu blog, este vídeo já está cumprindo seu objetivo: ligar coisas belas e que fazem bem ao produto.
Tags: Peugeot; 308; Salone di Ginevra; Publicidade; Arte
terça-feira, novembro 22, 2011
segunda-feira, novembro 21, 2011
Gifs psicodélicos criados por David Ope
Esse cara faz umas coisas interessantíssimas. Arte em movimento e não é cinema. Bom de olhar, como toda boa arte. [Fui achar isso na Superinteressante, que diga-se de passagem, continua superinteressantíssima]
Veja mais aqui.
Veja mais aqui.
domingo, novembro 20, 2011
Bianca
Esse soneto foi feito pra filha da Marcela Degani, neta do meu irmão Antônio Carlos. Bianca é esperada para Janeiro.
Bianca
Assim que o Sol passar por Janeiro
Carmim e laranja, da cor da paixão
Uma nuvem branca, da cor do algodão
Vai chegar pra abraçar o céu inteiro
Clarinha, clarinha, como miolo de pão
Vai chegar de mansinho, bem devagar
Vai fazer tanta gente rir e chorar
De tanta, mas de tanta emoção
Branca, branquinha, que nem a Lua crescente
Vem ser alegria em sua mais pura descrição
Vem ser forte e linda, vem ser branda e valente
Vem trazer toda a transformação
Que uma menina esperada tão intensamente
Realiza em todos os cantos do coração
sexta-feira, novembro 18, 2011
Earth
Dica do Ugo Degani. Veja em HD.
Earth | Time Lapse View from Space, Fly Over | NASA, ISS from Michael König on Vimeo.
Earth | Time Lapse View from Space, Fly Over | NASA, ISS from Michael König on Vimeo.
Um cara romântico
O Marcelo Spini sempre foi um cara durão. Rústico, como ele sempre dizia. Quer dizer... Era o que ele sempre dizia. Se viajávamos de carro, o dele tinha de ir à frente. Sua moto sempre era a melhor (ainda diz que a sua é mais bonita que a do Júnior Degani). Dava tiros. Virava garrafões. Destruía instalações hidráulicas. Homem-bomba.
Mas outro dia, conversando comigo e com os amigos Junior e Ugo, ele disse que gostava de um filme que eu simplesmente adoro. Completei dizendo que sou doido pela cena final. Ele disse o mesmo e ainda completou que o sorriso da Julia Roberts é algo fora dos parâmetros normais. Concordei na hora.
Na verdade o Marcelo Spini sempre foi um romântico e só agora vai deixando isso ficar claro. Somos românticos e adoramos filmes românticos com a Julia Roberts sorrindo ao som maravilhoso do Elvis Costello.
Mas outro dia, conversando comigo e com os amigos Junior e Ugo, ele disse que gostava de um filme que eu simplesmente adoro. Completei dizendo que sou doido pela cena final. Ele disse o mesmo e ainda completou que o sorriso da Julia Roberts é algo fora dos parâmetros normais. Concordei na hora.
Na verdade o Marcelo Spini sempre foi um romântico e só agora vai deixando isso ficar claro. Somos românticos e adoramos filmes românticos com a Julia Roberts sorrindo ao som maravilhoso do Elvis Costello.
Clique aqui e curta a cena.
Atraso pontual
Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relogio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vêm sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?
Paulo Leminski
adianta consultar o relogio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vêm sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?
Paulo Leminski
quinta-feira, novembro 10, 2011
Conheço a residência da dor
Conheço a residência da dor.
É um lugar afastado,
Sem vizinhos, sem conversa, quase sem lágrimas,
Com umas imensas vigílias diante do céu.
A dor não tem nome,
Não se chama, não atende.
Ela mesma é solidão:
Nada mostra, nada pede, não precisa.
Vem quando quer.
O rosto da dor está voltado sobre um espelho,
Mas não é rosto de corpo,
Nem o seu espelho é do mundo.
Conheço pessoalmente a dor.
A sua residência, longe,
Em caminhos inesperados.
Às vezes sento-me à sua porta, na sombra das suas árvores.
E ouço dizer:
"Quem visse, como vês, a dor, já não sofria".
E olho para ela, imensamente.
Conheço há muito tempo a dor.
Conheço-a de perto.
Pessoalmente.
Cecília Meireles
É um lugar afastado,
Sem vizinhos, sem conversa, quase sem lágrimas,
Com umas imensas vigílias diante do céu.
A dor não tem nome,
Não se chama, não atende.
Ela mesma é solidão:
Nada mostra, nada pede, não precisa.
Vem quando quer.
O rosto da dor está voltado sobre um espelho,
Mas não é rosto de corpo,
Nem o seu espelho é do mundo.
Conheço pessoalmente a dor.
A sua residência, longe,
Em caminhos inesperados.
Às vezes sento-me à sua porta, na sombra das suas árvores.
E ouço dizer:
"Quem visse, como vês, a dor, já não sofria".
E olho para ela, imensamente.
Conheço há muito tempo a dor.
Conheço-a de perto.
Pessoalmente.
Cecília Meireles
domingo, novembro 06, 2011
O amor
Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.
A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.
A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.
Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.
A marcar sobre os teus flancos
itinerários da espuma.
Assim é o amor: mortal e navegável.
Eugénio de Andrade
corta os lábios.
A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.
A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.
Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.
A marcar sobre os teus flancos
itinerários da espuma.
Assim é o amor: mortal e navegável.
Eugénio de Andrade
Minha mulher
Minha mulher, a solidão,
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é ao coração
Ter este bem que não existe!
Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho
E falo alto sem que haja alguém:
Nascem-me os versos do caminhos.
Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só – veste de seda -,
E fala só – leque animado.
FernandoPessoa
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é ao coração
Ter este bem que não existe!
Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho
E falo alto sem que haja alguém:
Nascem-me os versos do caminhos.
Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só – veste de seda -,
E fala só – leque animado.
FernandoPessoa
sexta-feira, novembro 04, 2011
Poema em linha reta
Este aqui é para aqueles com alguns "conhecidos que têm sido campeões em tudo"...
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Fernando Pessoa
terça-feira, novembro 01, 2011
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