NO MUNDO DOS BLOGS. Todo mundo está se ligando, se conectando, se blogando. Os sinais de fumaça, os tambores, os pombos-correio, as cartas de papel, os telefonemas. Os blogs. Para começar, para ver como é que fica, vamos falar de tudo...
terça-feira, maio 31, 2011
quinta-feira, maio 26, 2011
Eddie Vedder - Ukulele Songs
O cara é uma lenda. A voz inconfundível faz dele uma marca indelével no r'n'r. Fora isso, se fosse pouco, ainda é uma figura. Neste link, seu mais recente trabalho.
quarta-feira, maio 25, 2011
Beijo
Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue.
Acalma-o com teu beijo,
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!
Fora, repouse em paz
Dormindo em calmo sono a calma natureza,
Ou se debata, das tormentas presa,
Beija inda mais!
E, enquanto o brando calor
Sinto em meu peito de teu seio,
Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o mesmo ardente amor!…
Diz tua boca: "Vem!"
Inda mais! diz a minha, a soluçar… Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais!
que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!
Castro Alves
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue.
Acalma-o com teu beijo,
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!
Fora, repouse em paz
Dormindo em calmo sono a calma natureza,
Ou se debata, das tormentas presa,
Beija inda mais!
E, enquanto o brando calor
Sinto em meu peito de teu seio,
Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o mesmo ardente amor!…
Diz tua boca: "Vem!"
Inda mais! diz a minha, a soluçar… Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais!
que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!
Castro Alves
A Inigualável
Ai, como eu te queria toda de violetas
E flébil de setim…
Teus dedos longos, de marfim,
Que os sombreassem joias pretas…
E tão febril e delicada
Que não podesses dar um passo –
Sonhando estrelas, transtornada,
Com estampas de côr no regaço…
Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas –
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas…
Ah! que as tuas nostalgias fôssem guisos de prata –
Teus frenesis, lantejoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata…
Teus beijos, queria-os de tule,
Transparecendo carmim –
Os teus espasmos, de sêda…
- Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor por mim…
E flébil de setim…
Teus dedos longos, de marfim,
Que os sombreassem joias pretas…
E tão febril e delicada
Que não podesses dar um passo –
Sonhando estrelas, transtornada,
Com estampas de côr no regaço…
Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas –
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas…
Ah! que as tuas nostalgias fôssem guisos de prata –
Teus frenesis, lantejoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata…
Teus beijos, queria-os de tule,
Transparecendo carmim –
Os teus espasmos, de sêda…
- Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor por mim…
Mário de Sá-Carneiro
quinta-feira, maio 19, 2011
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny
domingo, maio 15, 2011
Sem título
Use a noite pra mergulhar
Num mar de estrelas e sonhos
Vá ao fundo da imaginação
Use a noite pra se soltar
Deixar fluir o que você quiser
E chegar onde for chegar
O que vier ao coração
Canção da Noite
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu
Chico Buarque de Holanda
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu
Chico Buarque de Holanda
sábado, maio 14, 2011
Sem necessidade de título
Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
Pablo Neruda
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
Pablo Neruda
sexta-feira, maio 13, 2011
Sonho de consumo
Tem gente que quer uma casa no campo. Outros uma à beira da praia. Tem uns que querem uma "machinna" italiana. Outros uma alemã. Tem gente que quer ir a Dubbai. Outros a Miami. Tem gente que quer um anel de brilhantes. Outros, um de noivado.
Meu sonho de consumo é estar num show com estes caras. E se possível, na acompanhia de uns Deganis, como Ugo e Júnior.
Meu sonho de consumo é estar num show com estes caras. E se possível, na acompanhia de uns Deganis, como Ugo e Júnior.
quarta-feira, maio 11, 2011
Receita de mulher
As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Qu tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da [aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que tudo seja belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-e dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) e também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37° centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras
Do 1° grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro da paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ele não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.
Vinícius de Moraes
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Qu tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da [aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que tudo seja belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-e dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) e também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37° centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras
Do 1° grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro da paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ele não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.
Vinícius de Moraes
Teu corpo seja brasa
teu corpo seja brasa
e o meu a casa
que se consome no fogo
um incêndio basta
pra consumar esse jogo
uma fogueira chega
pra eu brincar de novo
Alice Ruiz
e o meu a casa
que se consome no fogo
um incêndio basta
pra consumar esse jogo
uma fogueira chega
pra eu brincar de novo
Alice Ruiz
domingo, maio 08, 2011
Árvores - 4
sábado, maio 07, 2011
Campo de Flores
Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus-ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.
Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.
Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.
Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.
E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.
Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.
Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.
Carlos Drummond de Andrade
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus-ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.
Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.
Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.
Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.
E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.
Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.
Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.
Carlos Drummond de Andrade
quinta-feira, maio 05, 2011
Aos amigos de travessia e os travessos da Santa Sexta - por Renato Cabral
O assunto desse texto do Cabral já foi utilizado aqui nesse blog. E em todos os lugares onde alguém possa escrever. Sobre o tema, músicas melosas foram feitas. Outras nem tanto ficaram guardadas com a gente. A Ciência já se debruçou também sobre essa conversa de amigos. Concluiu que os amigos influenciam sim, como diziam nossos pais. Até pra engordar.
Tenho um amigo que batia na janela do meu quarto às três da manhã pra me chamar pra tomar cerveja. E eu ia. Há mistérios, mágica, mil coisas doidas que nos ligam a essas pessoas. Sabe-se lá o que são.
Para que serve um amigo, você me perguntará. Não dá para responder com tese. Talvez com história.
Dos amigos, interessante, me lembro mais dos que já não o são do que daqueles que perduraram e ainda estão por aqui. Os que ficaram não mais notaram minha barriga, os brancos da cuca, o gosto excessivo pelo passado ou os sucessos medianos que coleciono. É que enxergar o tempo em nós apenas é possível por esses detalhes que só os já distantes têm os olhos para ver. A proximidade só permite tocar o essencial. Mas nem sempre é o essencial que conta sobre o que vale a pena.
Eu tenho três amigos. Só três sobraram. Que bom que a história, as circunstâncias e minha chatice fizeram o favor de filtrar os grãos finos daqueles que sobreviveram ao tempo. São estes que levamos na capanga como os falsos cristais que colecionávamos como diamantes quando éramos crianças. A fantasia não é uma mentira, é a poção mágica que damos ao mundo para que as pedras nos cantem e os muros nos deixem passar.
O primeiro amigo jamais permitiria que eu o chamasse assim. Se ele ler isso, se indignará e na primeira oportunidade me fará outro de seus favores: me mostrará que estou errado, mais uma vez. Uma vida interessante talvez possa ser contada pelas aventuras a que nos dedicamos, aquelas pequenas bobagens que conseguimos contrapor à seriedade do mundo. A maior parte das minhas foram feitas ao lado dele. Andamos de bicicleta pela América do Sul, escrevemos nossas primeiras linhas no Calabouço, fomos a uma final do Atlético no Mineirão. Ele sempre a me chamar de gordo, mesmo quando minha adiposidade era só de 4% e eu tentava uma vaga para o IronMan do Havaí. Ele sempre a me alertar sobre o desperdício, insistindo que a média não era o melhor local para gente como eu. E enquanto eu tentava sair do lugar, ele já se banhava na cachoeira mais próxima. Gostava de dizer que melhor que sair à rua como quem foge de casa, era fugir de casa como quem vai à rua. Nunca gostou de revoluções e de barulho. Talvez por isso seu silêncio e sua discrição contem melhor como ele transformou suas pequenas bobagens em diamantes. Gostava de me lembrar que a morte é o melhor alívio para os desperdiçados. Mas que, geralmente, nem a morte eles conquistam, porque falta vida para morrer. É um dos que vivem seu tormento com a sabedoria dos que aprenderam que é preciso parar de brigar com a própria loucura, muito menos colocá-la no ringue com a dos outros. Nas palavras dele: “quando morrermos, morrerá também uma forma de ver o mundo”. Vivo e com os olhos abertos como poucos.
O segundo amigo é uma mulher. Nas vésperas de seu primeiro casamento não fui convidado. É que ela ainda não sabia da amizade que teríamos. Mas nunca a perdoei de qualquer forma. Porque foi uma festa grande. Hoje, no segundo casamento, ela prepara outra festa.Vai ter um filho, que insisto em chamar de Malu, porque gostaria que fosse mulher. Ela sempre teve que conviver com meu egoísmo. E aquela esquina que nos conhecemos e plantamos o melhor de nós eu ainda levo aqui dentro por onde vou. Poucas pessoas me deixaram falar tanto. Para poucos falei tanto. O que é uma pena. Porque ler seus textos, ouvir sua música, suas histórias e a agonia e a grandeza da sua alma era muito mais interessantes que saber das minhas misérias. Quando eu for velho a pedalar solitário para Martinésia ou quando voltar do Himalaia, é bem provável que seja na companhia dela que estarei para ouvir que estou velho, gordo e chato como nunca. Sorrirei mais uma vez, como sempre.
Meu terceiro amigo não é uma pessoa. Mas uma mesa imaginária: a Santa Sexta, um grupo de fanfarrões geniais que se reúnem há mais de dez anos, todas as sextas, para celebrar o que o espírito humano tem de maior: a fome. Cada um a sua maneira contribuiu para que eu parasse de dividir minha existência entre o medíocre e o herói. Deles, aprendi que a vida pode nos tirar tudo, mas que aquilo que resta tenha pelo menos tempero. Somos esse grupo multidisciplinar de autodidatas onívoros, apenas tentando responder às grandes questões que nos iguala e talvez um dia nos leve além: será a vida possível quando não mais tivermos ereções ou após uma broxada? No fundo, o encontro é só (e não é pouco) um grande exercício cuja pretensão máxima é no mínimo dominar o mundo e colocar tudo num blog para que as próxima gerações possam saber do que uma mente desocupada e bem alimentada é capaz. Nossa metafísica acontece num restaurante qualquer (ainda queremos esquecer aquele longo inverno no shopping) com a desculpa de debater (e se possível comer) os grandes temas: bundas, tetas, internet, música, Deus, inimigos e videogame. Mas a melhor pauta mesmo é perceber como estamos todos piores com o tempo, independente do dinheiro e das mulheres de cada um. Menos o Roberval, claro.
Que não seque nossa memória, para que as histórias não fiquem ralas. Porque nosso testemunho por aqui é frágil em todas suas linhas e na sua extensão. Mas épico e humano também por isso. Para que serve, então, um amigo você pergunta? Para nada mais do que poder caminhar. Nascemos sozinhos, morreremos sozinhos, mas, como dizem, a vida é uma travessia. E o que é belo em nós é mesmo esse estar a caminho. No fim, você vai notar, o que importa não são as histórias, mas a força que elas dão para nos desprendermos, que nos permitem dar prova (ao mundo e nós mesmos) de nossa tentativa de desafiarmos a morte. E por isso meus amigos são essa ponte e esse corrimão, sem o qual não teria testemunha para meus afetos, para o desgosto das quedas nem para celebrar o gosto por esse mistério que é estar por estas bandas.
Dizem desde há muito tempo que estamos todos dentro dessa caverna, distraídos a nos enganar com as sombras de sua parede. Que o mundo lá fora é outro, muito mais legal. Não sei. Mas que bom é ter a companhia de outros enganados, ou desenganados, para tentarmos esse desprendimento e apenas bebermos juntos enquanto a revelação não vem. E acho mesmo que não virá. Também não importa. Porque juntos, o tempo que passa não é o tempo que corre, mas o tempo que permanece. Juntos até o fim dos tempos meus amigos.
Por Renato Cabral
Tenho um amigo que batia na janela do meu quarto às três da manhã pra me chamar pra tomar cerveja. E eu ia. Há mistérios, mágica, mil coisas doidas que nos ligam a essas pessoas. Sabe-se lá o que são.
Para que serve um amigo, você me perguntará. Não dá para responder com tese. Talvez com história.
Dos amigos, interessante, me lembro mais dos que já não o são do que daqueles que perduraram e ainda estão por aqui. Os que ficaram não mais notaram minha barriga, os brancos da cuca, o gosto excessivo pelo passado ou os sucessos medianos que coleciono. É que enxergar o tempo em nós apenas é possível por esses detalhes que só os já distantes têm os olhos para ver. A proximidade só permite tocar o essencial. Mas nem sempre é o essencial que conta sobre o que vale a pena.
Eu tenho três amigos. Só três sobraram. Que bom que a história, as circunstâncias e minha chatice fizeram o favor de filtrar os grãos finos daqueles que sobreviveram ao tempo. São estes que levamos na capanga como os falsos cristais que colecionávamos como diamantes quando éramos crianças. A fantasia não é uma mentira, é a poção mágica que damos ao mundo para que as pedras nos cantem e os muros nos deixem passar.
O primeiro amigo jamais permitiria que eu o chamasse assim. Se ele ler isso, se indignará e na primeira oportunidade me fará outro de seus favores: me mostrará que estou errado, mais uma vez. Uma vida interessante talvez possa ser contada pelas aventuras a que nos dedicamos, aquelas pequenas bobagens que conseguimos contrapor à seriedade do mundo. A maior parte das minhas foram feitas ao lado dele. Andamos de bicicleta pela América do Sul, escrevemos nossas primeiras linhas no Calabouço, fomos a uma final do Atlético no Mineirão. Ele sempre a me chamar de gordo, mesmo quando minha adiposidade era só de 4% e eu tentava uma vaga para o IronMan do Havaí. Ele sempre a me alertar sobre o desperdício, insistindo que a média não era o melhor local para gente como eu. E enquanto eu tentava sair do lugar, ele já se banhava na cachoeira mais próxima. Gostava de dizer que melhor que sair à rua como quem foge de casa, era fugir de casa como quem vai à rua. Nunca gostou de revoluções e de barulho. Talvez por isso seu silêncio e sua discrição contem melhor como ele transformou suas pequenas bobagens em diamantes. Gostava de me lembrar que a morte é o melhor alívio para os desperdiçados. Mas que, geralmente, nem a morte eles conquistam, porque falta vida para morrer. É um dos que vivem seu tormento com a sabedoria dos que aprenderam que é preciso parar de brigar com a própria loucura, muito menos colocá-la no ringue com a dos outros. Nas palavras dele: “quando morrermos, morrerá também uma forma de ver o mundo”. Vivo e com os olhos abertos como poucos.
O segundo amigo é uma mulher. Nas vésperas de seu primeiro casamento não fui convidado. É que ela ainda não sabia da amizade que teríamos. Mas nunca a perdoei de qualquer forma. Porque foi uma festa grande. Hoje, no segundo casamento, ela prepara outra festa.Vai ter um filho, que insisto em chamar de Malu, porque gostaria que fosse mulher. Ela sempre teve que conviver com meu egoísmo. E aquela esquina que nos conhecemos e plantamos o melhor de nós eu ainda levo aqui dentro por onde vou. Poucas pessoas me deixaram falar tanto. Para poucos falei tanto. O que é uma pena. Porque ler seus textos, ouvir sua música, suas histórias e a agonia e a grandeza da sua alma era muito mais interessantes que saber das minhas misérias. Quando eu for velho a pedalar solitário para Martinésia ou quando voltar do Himalaia, é bem provável que seja na companhia dela que estarei para ouvir que estou velho, gordo e chato como nunca. Sorrirei mais uma vez, como sempre.
Meu terceiro amigo não é uma pessoa. Mas uma mesa imaginária: a Santa Sexta, um grupo de fanfarrões geniais que se reúnem há mais de dez anos, todas as sextas, para celebrar o que o espírito humano tem de maior: a fome. Cada um a sua maneira contribuiu para que eu parasse de dividir minha existência entre o medíocre e o herói. Deles, aprendi que a vida pode nos tirar tudo, mas que aquilo que resta tenha pelo menos tempero. Somos esse grupo multidisciplinar de autodidatas onívoros, apenas tentando responder às grandes questões que nos iguala e talvez um dia nos leve além: será a vida possível quando não mais tivermos ereções ou após uma broxada? No fundo, o encontro é só (e não é pouco) um grande exercício cuja pretensão máxima é no mínimo dominar o mundo e colocar tudo num blog para que as próxima gerações possam saber do que uma mente desocupada e bem alimentada é capaz. Nossa metafísica acontece num restaurante qualquer (ainda queremos esquecer aquele longo inverno no shopping) com a desculpa de debater (e se possível comer) os grandes temas: bundas, tetas, internet, música, Deus, inimigos e videogame. Mas a melhor pauta mesmo é perceber como estamos todos piores com o tempo, independente do dinheiro e das mulheres de cada um. Menos o Roberval, claro.
Que não seque nossa memória, para que as histórias não fiquem ralas. Porque nosso testemunho por aqui é frágil em todas suas linhas e na sua extensão. Mas épico e humano também por isso. Para que serve, então, um amigo você pergunta? Para nada mais do que poder caminhar. Nascemos sozinhos, morreremos sozinhos, mas, como dizem, a vida é uma travessia. E o que é belo em nós é mesmo esse estar a caminho. No fim, você vai notar, o que importa não são as histórias, mas a força que elas dão para nos desprendermos, que nos permitem dar prova (ao mundo e nós mesmos) de nossa tentativa de desafiarmos a morte. E por isso meus amigos são essa ponte e esse corrimão, sem o qual não teria testemunha para meus afetos, para o desgosto das quedas nem para celebrar o gosto por esse mistério que é estar por estas bandas.
Dizem desde há muito tempo que estamos todos dentro dessa caverna, distraídos a nos enganar com as sombras de sua parede. Que o mundo lá fora é outro, muito mais legal. Não sei. Mas que bom é ter a companhia de outros enganados, ou desenganados, para tentarmos esse desprendimento e apenas bebermos juntos enquanto a revelação não vem. E acho mesmo que não virá. Também não importa. Porque juntos, o tempo que passa não é o tempo que corre, mas o tempo que permanece. Juntos até o fim dos tempos meus amigos.
Por Renato Cabral
domingo, maio 01, 2011
Gozo XII
São tuas as pálpebras
dos meus dias
tal como a laranja do lago
estagnado
é a lua do lago ao meio dia
quando o sol dos ombros está
rasgado
São teus os cilios
que as noites utilizam
é tua a saliva dos meus
braços
é teu o cacto que no ventre
incerto
debruça levar os seus
orgasmos
Não tenho mais que te dizer
das coisas
que tudo o mais te faço eu
deitada
enquanto sentes que o teu corpo
cresce
por dentro do mundo
na minha mão fechada.
Maria Teresa Horta
dos meus dias
tal como a laranja do lago
estagnado
é a lua do lago ao meio dia
quando o sol dos ombros está
rasgado
São teus os cilios
que as noites utilizam
é tua a saliva dos meus
braços
é teu o cacto que no ventre
incerto
debruça levar os seus
orgasmos
Não tenho mais que te dizer
das coisas
que tudo o mais te faço eu
deitada
enquanto sentes que o teu corpo
cresce
por dentro do mundo
na minha mão fechada.
Maria Teresa Horta
O Dia Seguinte ao do Amor
Quando a luz estender as roupas nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leito fundo de nossas duas almas,
Chamarem nossos corpos nus,entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas e felizes,
De grandes olhos claros e rasgados…
Depois,volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!…
E as rosas da cidade inda serão mais rosas.
Serão todas felizes sem saber porque.
Até os cegos,os entrevadinhos… E
Vestidos contra o azul de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas,
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!
Mário Quintana
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leito fundo de nossas duas almas,
Chamarem nossos corpos nus,entrelaçados,
Seremos, na manhã, duas máscaras calmas e felizes,
De grandes olhos claros e rasgados…
Depois,volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!…
E as rosas da cidade inda serão mais rosas.
Serão todas felizes sem saber porque.
Até os cegos,os entrevadinhos… E
Vestidos contra o azul de tons vibrantes e violentos,
Nós improvisaremos danças espantosas,
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!
Mário Quintana
Gozo XI
Conduzes na saliva
um candelabro aceso
um chicote de gozo
nas palavras
E a seda do meu corpo
já te cede
neste odor de borco em que me abres
Sedenta e sequiosa
vou sabendo
a demorar o tempo que se espraia
ao longo dos flancos que vou tendo
as tuas pernas
vezes teu ventre
A tua lingua
vezes os teus dentes
na pressa veloz com que me rasgas.
Maria Teresa Horta
um candelabro aceso
um chicote de gozo
nas palavras
E a seda do meu corpo
já te cede
neste odor de borco em que me abres
Sedenta e sequiosa
vou sabendo
a demorar o tempo que se espraia
ao longo dos flancos que vou tendo
as tuas pernas
vezes teu ventre
A tua lingua
vezes os teus dentes
na pressa veloz com que me rasgas.
Maria Teresa Horta
Gozo X
São de aluminio
os flancos
e de feltro a lingua
de felpa ou seda
a abertura incerta
que cede breve a humidade
esguia
presa no quente do interior
da pedra
Ou musgo doce
de haste sempre dura
de onde pendem seus dois mansos frutos
que a boca aflora e os dentes prendem
a tatear-lhes
o hálito e o suco.
Maria Teresa Horta
os flancos
e de feltro a lingua
de felpa ou seda
a abertura incerta
que cede breve a humidade
esguia
presa no quente do interior
da pedra
Ou musgo doce
de haste sempre dura
de onde pendem seus dois mansos frutos
que a boca aflora e os dentes prendem
a tatear-lhes
o hálito e o suco.
Maria Teresa Horta
Gozo VI
São de bronze
os palácios do teu sangue
de cristal absorto
encimesmado
São de esperma
os rubis que tens no corpo
a crescerem-te no ventre
ao acaso
São de vento – são de vidro
são de vinho
os liquidos silencios dos teus olhos
as rutilas esmeraldas que
sózinhas
ferem de verde aquilo que tu escolhes
São cintilantes grutas
que germinam
na obscura teia dos teus lábios
o hálito das mãos
a lingua – as veias
São de cupulas crisálidas
são de areia
São de brandas catedrais
que desnorteiam
(São de cupulas crisálidas
são de areia)
na minha vulva
o gosto dos teus espasmos.
Maria Teresa Horta
os palácios do teu sangue
de cristal absorto
encimesmado
São de esperma
os rubis que tens no corpo
a crescerem-te no ventre
ao acaso
São de vento – são de vidro
são de vinho
os liquidos silencios dos teus olhos
as rutilas esmeraldas que
sózinhas
ferem de verde aquilo que tu escolhes
São cintilantes grutas
que germinam
na obscura teia dos teus lábios
o hálito das mãos
a lingua – as veias
São de cupulas crisálidas
são de areia
São de brandas catedrais
que desnorteiam
(São de cupulas crisálidas
são de areia)
na minha vulva
o gosto dos teus espasmos.
Maria Teresa Horta
Gozo IX
Ondula mansamente a tua lingua
de saliva tirando
toda a roupa…
já breves vêm os dias
dentro de noites já
poucas.
Que resta do nosso
gozo
se parares de me beijar?
Oh meu amor…
devagar…
até que eu fique louca!
Depois… não vejas o mar
afogado em minha
boca!
Maria Teresa Horta
de saliva tirando
toda a roupa…
já breves vêm os dias
dentro de noites já
poucas.
Que resta do nosso
gozo
se parares de me beijar?
Oh meu amor…
devagar…
até que eu fique louca!
Depois… não vejas o mar
afogado em minha
boca!
Maria Teresa Horta
Assinar:
Postagens (Atom)