Conheço o Renato do tempo da Marbo. Logística era o que era na época. E nessa época, ele já era o cara. Mas neste texto, mostra o quanto é. O cara. Abduzo aqui o texto dele do livro facial que ele mantém. Procurem lá. É muito bom. É tão bom que fico sem graça de escrever minhas linhas.
Leia ouvindo isso:
Seja forte quando eu partir. Quando eu morrer, não diga nada a eles. Não insista com o tempo para que algo de mim resista. Que esqueçam logo meu nome e que a brisa mais boba tampe qualquer rastro de meu passo, de meu hálito. Quando eu me for, não tente me seguir. Às vezes comprar cigarros não tem mesmo volta. Tantas vezes ir não é uma escolha. Quando você se sentir sozinha, não vá às cartas, não procure nas fotos a minha lembrança. Já não estou nessas pistas, nesse resíduo de história. Até nas cartas e nos cheiros que te deixei já faltarei. Nem busque na sua memória ou na batida tropeçada do coração que se arrasta isso que aprendemos a reconhecer como saudade. Essa saudade não sou eu, mesmo que ela te tenha. Guarde sua fé para coisas mais importantes que achar que eu estou bem em outro lugar. Nosso time preferido, que ainda joga e sempre perde, precisa da sua torcida mais do que eu. Não sinta falta do aperto na cintura, do mergulho na represa, do meu olhar que te procura na multidão. Não sinta pena de nada. Não faça da culpa uma companhia quando eu faltar para o café. E quando andar pelos muitos sois que se porão, não busque minha mão no vão da caminhada. Vá sozinha. Ande longe. E não pense que no horizonte você verá meu vulto. Quando eu partir, não tenha vergonha de despejar seu olhar em outros homens, em outros corpos. Ele nunca foi meu. Mas como era bom ser o alvo da sua direção. Quando todos aqueles risos que criamos juntos como platéia e atores simultâneos for apenas um ruído de incômodo, ou até o melhor jeito de se sentar pra ver a novela e ver o tempo costurar seus sentidos, eu já terei desaparecido na esquina. Não busque informações com o barqueiro das almas. Ele só existe nas boas histórias dos boêmios. Não jogue sua moeda na fonte pra que minha alma tenha um lugar nesse barco. Pegue-a e compre uma nova maçã do amor. E não chore por eu não poder beijar o caldo doce que escorre por sua boca até seu queixo. Quando você passar perto dos terrenos baldios onde moram os parques de diversão que vêm no verão, não amaldiçoe a alegria dos outros com sua tristeza. Ela vai passar, assim como os parques irão embora um dia. Quando eu me for, que seu luto seja tão pouco como tentar encontrar as chaves do carro pela casa, para que você possa dar uma volta na cidade e ver a continuidade de tudo. Não será preciso gritar ou mundo que eu vali a pena ou que fui o grande desperdiçado. Qualquer julgamento não fará mais sentido quando você já não tiver um colo para sentar ou dedos carinhosos para luxar seu sono. Quando meu corpo for apenas aquela borra na mistura da terra, aí, talvez, quando você não puder mais me ver em nada, você poderá me reconhecer em tudo, até nas pequenas coisas que ninguém mais olha. Porque quando eu partir, saiba que eu já terei a resposta à sua pergunta: “você conseguiu a vida que quis ter? Conseguiu viver como se fosse viver para sempre?”. Quando eu fechar os olhos pela última vez, será a última vez que pensarei em nós. E é isso a eternidade pra mim: o máximo de tudo, no mínimo de nada possível. Como um beijo nosso. E mesmo que haja dor, agonia e desespero, eu estarei sorrindo, estarei sorrindo, ainda estarei sorrindo com você... sempre pra você.
Por Renato Cabral
Leia ouvindo isso:
Seja forte quando eu partir. Quando eu morrer, não diga nada a eles. Não insista com o tempo para que algo de mim resista. Que esqueçam logo meu nome e que a brisa mais boba tampe qualquer rastro de meu passo, de meu hálito. Quando eu me for, não tente me seguir. Às vezes comprar cigarros não tem mesmo volta. Tantas vezes ir não é uma escolha. Quando você se sentir sozinha, não vá às cartas, não procure nas fotos a minha lembrança. Já não estou nessas pistas, nesse resíduo de história. Até nas cartas e nos cheiros que te deixei já faltarei. Nem busque na sua memória ou na batida tropeçada do coração que se arrasta isso que aprendemos a reconhecer como saudade. Essa saudade não sou eu, mesmo que ela te tenha. Guarde sua fé para coisas mais importantes que achar que eu estou bem em outro lugar. Nosso time preferido, que ainda joga e sempre perde, precisa da sua torcida mais do que eu. Não sinta falta do aperto na cintura, do mergulho na represa, do meu olhar que te procura na multidão. Não sinta pena de nada. Não faça da culpa uma companhia quando eu faltar para o café. E quando andar pelos muitos sois que se porão, não busque minha mão no vão da caminhada. Vá sozinha. Ande longe. E não pense que no horizonte você verá meu vulto. Quando eu partir, não tenha vergonha de despejar seu olhar em outros homens, em outros corpos. Ele nunca foi meu. Mas como era bom ser o alvo da sua direção. Quando todos aqueles risos que criamos juntos como platéia e atores simultâneos for apenas um ruído de incômodo, ou até o melhor jeito de se sentar pra ver a novela e ver o tempo costurar seus sentidos, eu já terei desaparecido na esquina. Não busque informações com o barqueiro das almas. Ele só existe nas boas histórias dos boêmios. Não jogue sua moeda na fonte pra que minha alma tenha um lugar nesse barco. Pegue-a e compre uma nova maçã do amor. E não chore por eu não poder beijar o caldo doce que escorre por sua boca até seu queixo. Quando você passar perto dos terrenos baldios onde moram os parques de diversão que vêm no verão, não amaldiçoe a alegria dos outros com sua tristeza. Ela vai passar, assim como os parques irão embora um dia. Quando eu me for, que seu luto seja tão pouco como tentar encontrar as chaves do carro pela casa, para que você possa dar uma volta na cidade e ver a continuidade de tudo. Não será preciso gritar ou mundo que eu vali a pena ou que fui o grande desperdiçado. Qualquer julgamento não fará mais sentido quando você já não tiver um colo para sentar ou dedos carinhosos para luxar seu sono. Quando meu corpo for apenas aquela borra na mistura da terra, aí, talvez, quando você não puder mais me ver em nada, você poderá me reconhecer em tudo, até nas pequenas coisas que ninguém mais olha. Porque quando eu partir, saiba que eu já terei a resposta à sua pergunta: “você conseguiu a vida que quis ter? Conseguiu viver como se fosse viver para sempre?”. Quando eu fechar os olhos pela última vez, será a última vez que pensarei em nós. E é isso a eternidade pra mim: o máximo de tudo, no mínimo de nada possível. Como um beijo nosso. E mesmo que haja dor, agonia e desespero, eu estarei sorrindo, estarei sorrindo, ainda estarei sorrindo com você... sempre pra você.
Por Renato Cabral
2 comentários:
Meus sinceros parabéns ao Renato Cabral, também me lembro dele na Marbo, só não poderia imaginar tamanho talento.
Faço suas as minhas palavras sobre o Cabral. Ele é bom mesmo! Orgulho de ser amigo de gente assim.
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