domingo, fevereiro 27, 2011

Como uma estrela

Hendrix-Gilmour-Seal

Tocar e cantar como Hendrix não é fácil. Melhor unir a guitarra do Gilmour com a voz do Seal.


Touch

Renato Cabral

Conheço o Renato do tempo da Marbo. Logística era o que era na época. E nessa época, ele já era o cara. Mas neste texto, mostra o quanto é. O cara. Abduzo aqui o texto dele do livro facial que ele mantém. Procurem lá. É muito bom. É tão bom que fico sem graça de escrever minhas linhas.

Leia ouvindo isso:



Seja forte quando eu partir. Quando eu morrer, não diga nada a eles. Não insista com o tempo para que algo de mim resista. Que esqueçam logo meu nome e que a brisa mais boba tampe qualquer rastro de meu passo, de meu hálito. Quando eu me for, não tente me seguir. Às vezes comprar cigarros não tem mesmo volta. Tantas vezes ir não é uma escolha. Quando você se sentir sozinha, não vá às cartas, não procure nas fotos a minha lembrança. Já não estou nessas pistas, nesse resíduo de história. Até nas cartas e nos cheiros que te deixei já faltarei. Nem busque na sua memória ou na batida tropeçada do coração que se arrasta isso que aprendemos a reconhecer como saudade. Essa saudade não sou eu, mesmo que ela te tenha. Guarde sua fé para coisas mais importantes que achar que eu estou bem em outro lugar. Nosso time preferido, que ainda joga e sempre perde, precisa da sua torcida mais do que eu. Não sinta falta do aperto na cintura, do mergulho na represa, do meu olhar que te procura na multidão. Não sinta pena de nada. Não faça da culpa uma companhia quando eu faltar para o café. E quando andar pelos muitos sois que se porão, não busque minha mão no vão da caminhada. Vá sozinha. Ande longe. E não pense que no horizonte você verá meu vulto. Quando eu partir, não tenha vergonha de despejar seu olhar em outros homens, em outros corpos. Ele nunca foi meu. Mas como era bom ser o alvo da sua direção. Quando todos aqueles risos que criamos juntos como platéia e atores simultâneos for apenas um ruído de incômodo, ou até o melhor jeito de se sentar pra ver a novela e ver o tempo costurar seus sentidos, eu já terei desaparecido na esquina. Não busque informações com o barqueiro das almas. Ele só existe nas boas histórias dos boêmios. Não jogue sua moeda na fonte pra que minha alma tenha um lugar nesse barco. Pegue-a e compre uma nova maçã do amor. E não chore por eu não poder beijar o caldo doce que escorre por sua boca até seu queixo. Quando você passar perto dos terrenos baldios onde moram os parques de diversão que vêm no verão, não amaldiçoe a alegria dos outros com sua tristeza. Ela vai passar, assim como os parques irão embora um dia. Quando eu me for, que seu luto seja tão pouco como tentar encontrar as chaves do carro pela casa, para que você possa dar uma volta na cidade e ver a continuidade de tudo. Não será preciso gritar ou mundo que eu vali a pena ou que fui o grande desperdiçado. Qualquer julgamento não fará mais sentido quando você já não tiver um colo para sentar ou dedos carinhosos para luxar seu sono. Quando meu corpo for apenas aquela borra na mistura da terra, aí, talvez, quando você não puder mais me ver em nada, você poderá me reconhecer em tudo, até nas pequenas coisas que ninguém mais olha. Porque quando eu partir, saiba que eu já terei a resposta à sua pergunta: “você conseguiu a vida que quis ter? Conseguiu viver como se fosse viver para sempre?”. Quando eu fechar os olhos pela última vez, será a última vez que pensarei em nós. E é isso a eternidade pra mim: o máximo de tudo, no mínimo de nada possível. Como um beijo nosso. E mesmo que haja dor, agonia e desespero, eu estarei sorrindo, estarei sorrindo, ainda estarei sorrindo com você... sempre pra você.

Por Renato Cabral

Moacyr Scliar

"Somos os únicos seres capazes de iluminar nossa culpa. E culpa iluminada é culpa domada. Iluminado, o dedo acusador deixa de ser um algoz para ser simplesmente um dedo, parte do nosso corpo, parte da mão que nos fez humanos".

Moacyr Scliar

Morning Glory

Sem título

Nuvens de algodão
Num céu de azul cobalto
Os olhos vão ao alto
Mas voltam ao coração

Folhas e árvores em profusão
Vento que toca tudo em volta
Tempo que vai e que solta
As amarras da paixão

Céu azul, tarde de verão
Vento quente no peito
Ver que às vezes não tem jeito
De vencer a solidão

É assim

É assim que te quero
Assim, simples e bela
Como é você

É assim que te quero
Com sua voz sensual
A dizer palavras de matar

É assim que te quero
Quero seus olhos acesos
A me fuzilar

É assim que te quero
Em seus cabelos me perder
E lá ficar

É assim que te quero
Com seu corpo sedento
A me dar prazer

É assim que te quero
À sua alma voltar
E não mais sair

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

68

Sempre tive uma fixação pelo ano de 1968. Depois de o ter atravessado, anos depois, ficava me perguntando porque eu era tão criança naquele ano. Queria ter vivido aquelas coisas todas. 68 foi um ano de tantos acontecimentos, virou livros e livros, filmes e filmes. Em 68 havia ainda os Beatles e George Harrison.

O mais novo dos Beatles teve que tocar escondido por ser menor de 16 anos, em casas noturnas da Inglaterra. Imagino o John o acobertando. Hoje George faria 68. Mas isso talvez nem iporte mais. Tem gente, como eu, que sempre terá esse cara como uma pessoa sem idade. Atemporal.

George Harrison vive aqui.



A Conquista

Eu realizei um bravo feito,
Mais bravo que dos Bravos;
E outro mais bravo como efeito,
Que foi acobertá-lo.

Seria então tolo partilhar
Da pedra especular o
Corte, quando quem tem a arte,
Em parte alguma a encontra.

Se eu hoje disso faço alarde,
Outros ― que já não existem
tais pedras em que se trabalhe ―
Em amar como antes insistem.

Quem tenha alma a quem se revele,
Todo o exterior despreza;
Pois esse, que ama cor, e pele,
só ama a roupa mais velha.

Se você pôde, como eu falo,
Enxergar valor na mulher,
E ousar amá-la, e afirmá-lo,
E deixá-la escolher;

E se esse amor você esconde
Dos profanos, vulgares,
Que do fato buscam a fonte,
Ou lhe lançam olhares;

Então você alcançou um feito
Mais bravo que dos Bravos;
E outro mais bravo como efeito,
Que será acobertá-lo.

John Donne

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Amor bastante

Quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto.

Paulo Leminski

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Soneto LXXIX

De noite, amada, amarra teu coração ao meu
E que eles no sonho derrotem as trevas
Como um duplo tambor combatendo no bosque
Contra o espesso muro das folhas molhadas.

Noturna travessia, brasa negra do sonho
Interceptando o fio das uvas terrestres
Com a pontualidade de um trem descabelado
Que sombra e pedras frias sem cessar arrancasse.

Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
Á tenacidade que em teu peito bate
Com as asas de um cisne submergido,

Para que ás perguntas estreladas do céu
Responda nosso sonho com uma só chave,
Com uma só porta fechada pela sombra.

Pablo Neruda, em Cem sonetos de Amor

domingo, fevereiro 13, 2011

O Auto-Retrato

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão…
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança…
Terminado por um louco!

Mario Quintana

sábado, fevereiro 12, 2011

Lover, You Should've Come Over



Lover, You Should've Come Over

Jeff Buckley

Looking out the door I see the rain
fall upon the funeral mourners

Parading in a wake of sad relations
as their shoes fill up with water

And maybe I'm too young
To keep good love from going wrong
But tonight you're on my mind so (you'll never know)

I'm broken down and hungry for your love
With no way to feed it
Where are you tonight?
Child, you know how much I need it
Too young to hold on
and too old to just break free and run

Sometimes a man gets carried away
When he feels like he should be having his fun
And much too blind to see the damage he's done
Sometimes a man must awake to find that, really,
He has no one


Olhando pela porta vejo a chuva que cai nos
pranteadores do funeral

Desfilando em uma vigília de relações tristes enquanto
seus sapatos se enchem de água

E talvez eu seja muito novo
Para impedir que um bom amor dê errado
Mas esta noite você esta em meus pensamentos então,
nunca se sabe.

Estou completamente quebrado e faminto por seu amor
Sem nenhuma maneira sequer para alimentar-me
Onde está você esta noite? Querida, você sabe o quanto
eu preciso
Jovem demais para segurar a barra e velho demais para
simplesmente me libertar e correr

Às vezes um homem se deixa levar
Quando ele sente que na verdade ele deveria estar se
divertindo
E cego demais para ver o dano que causou
Às vezes um homem deve acordar para descobrir que, na
verdade, ele tem ninguém

Então eu vou esperar por você...E eu vou queimar
Será que vou assistir ao seu doce retorno, ou será que
um dia vou aprender?
Amor, você deveria ter vindo para cá.
Porque não é tarde demais!

Solitário é o quarto em que a cama é feita
A janela aberta deixa a chuva entrar
Queimando no canto está o único que sonha que já teve
você com ele
Meu corpo vira e anseia por um descanso que nunca
virá

Nunca tem fim, meu reino por um beijo em seu ombro!
Nunca tem fim, todas as minhas riquezas pelos seus
sorrisos dados quando eu dormia tão gentilmente contra
a ela!
Nunca tem fim, todo o meu sangue pela doçura de seus
risos!
Nunca tem fim, ela é a lágrima que se pendura dentro
de minha alma para sempre!
Talvez eu seja jovem demais para impedir que um bom
amor dê errado.

Amor, você deveria ter vindo para cá.
Porque não é tarde demais!

Ao coração que sofre

Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.

Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.

E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.


Olavo Bilac

Caso

Pode ser mais um capricho
pode ser uma paixão
pode ser coisa de bicho
pode não.

Pode ser já por destino
pelos astros, pelos signos
por uma marca, uma estrela
talvez já estivesse escrito
na palma da minha mão.

Talvez não...

Talvez até nem fique
nem signifique nada
nem me arranhe o coração
pode ser só uma cisma
pode estar só de passagem

Ou não.


Bruna Lombardi

Um beijo

que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer.
Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água
sem gás
de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
"ao sucesso"
diria meu censor
"à escuta"
diria meu amor

Ana Cristina César

A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me concontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

Vinícius de Moraes

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Pablo Picasso - 4

Eu

eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro de meu centro
este poema me olha

Paulo Leminski

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Pablo Picasso - 3

Poemeto Erótico

Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha…

Teu corpo é tudo o que cheira…
Rosa… flor de laranjeira…

Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado…

Teu corpo é pomo doirado…

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume…

Teu corpo é a brasa do lume…

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes…

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama…

Volúpia da água e da chama…

A todo momento o vejo…
Teu corpo… a única ilha
No oceano do meu desejo…

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira…
Rosa, flor de laranjeira…


Manuel Bandeira

domingo, fevereiro 06, 2011

Gary Moore

Já escrevi aqui sobre esse cara. E sobre essa música também. Coisas eternas que nunca irão embora. Coisas eternas, lindas, que nos acompanharão para sempre.


Pablo Picasso - 2

Dá-me a tua mão

Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio
e nesse silêncio profundo se esconde
minha intensa vontade de gritar.

Clarice Lispector

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Pablo Picasso - 1

In 1957

Essa é para o Júnior Degani.

Dedução

Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.

Está provado,
pensado,
verificado.

Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.

Vladimir Maiakóvski

Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo

Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo,
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em taltal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
juntos desde a roupa às raízes,
juntos de outono, de água, de quadris,
até ser só tu, só eu juntos.
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
a desembocadura da água de Boroa,
pensar que separados por trens e nações
tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos
com todos confundidos, com homens e mulheres,
com a terra que implanta e educa cravos.

Pablo Neruda

From P60

Zerosospiro

Lemongrass

Se não falas

Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e agüentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.

A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.

Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.

Rabindranath Tagore

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Strokes

O Luciano Araújo começou e apenas dou continuidade:


quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Babel - Ryuichi Sakamoto

Fascination

Ao Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade