segunda-feira, janeiro 17, 2011

Vida de cão


Fotos: Vanderlei Almeida | AFP

Não quero aqui minimizar a tragédia de centenas de pessoas mortas pelas condições que estavam sob a imensa chuva que caiu sobre elas. Nem a daquelas pessoas que ficaram, sem seus familiares e amigos. Mas não pude deixar de me emocionar ao olhar para a cara desse vira-lata que alguns dizem chamar Caramelo e outros dizem ser o Leão.

Todos nós temos amigos inseparáveis, amadurecidos em velhos barris feitos da mais pura madeira da fidelidade, do companheirismo, das alegrias e das tristezas. Muitos de nós também tivemos a alegria de ter amigos como Caramelo. Não passamos pela desgraça de Dona Cristina. Passamos por amarguras e apertos de toda a sorte. Ou falta dela. Mas estamos aqui pra continuar.

Caramelo continuou. Ficou ali pronto pra qualquer coisa que Dona Cristina precisasse. Deve ter ficado perdido, sem saber porque ela não saía debaixo de tanta lama. Ficou esperando. Amigo que é amigo espera. Amigo fica junto e nem repara se você tá sujo, limpo, cheiroso ou cheio de lama. Literalmente.

Caramelo é um brasileiro. Acabou de ser adotado por alguém que se apaixonou pelo seu rosto triste. Não dá pra saber se ele repetiria a história de Bobby, um skye terrier escocês que ficou quatorze anos velando o túmulo de seu dono, até sua própria morte em 14 de janeiro de 1872 e que acabou virando estátua, livro e filme da Disney.

Vida de cão. Toda uma vida de cachorro dedicada a esperar (ou velar) um amigo. Isso é que é vida de cão.


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