segunda-feira, janeiro 31, 2011

John Barry

Quem alguma vez foi ao cinema deve ter ouvido alguma música maravilhosa em um filme nem tanto. As trilhas musicais sempre foram muito mais que acompanhamentos sonoros. Tem certos filmes que devem ser considerados trilhas visuais para músicas excepcionais.

John Barry foi um cara que soube fazer isso. Eu era moleque e ao ver o filme "A História de Elza", uma leoa bem estrela, acabei ficando fã da música. Não tinha nem ideia do que era trilha sonora. Alguns 007s depois, já era um viciado nas músicas desse britânico, mesmo sem saber que ele era o autor. "Perdidos na Noite", "Dança com Lobos", "Em Algum Lugar no Passado" e "Entre Dois Amores" são alguns exemplos onde é impossível dissociar "luz em movimento" de "música para os ouvidos".

Quem sabe de cinema, sabe de música. Música de cinema. John Barry sempre será lembrado por essa turma que sempre adorou um escurinho de cinema. E de música feita pra ele.


domingo, janeiro 30, 2011

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa


sábado, janeiro 29, 2011

Deve haver um anjo ao meu lado



Kiss Of Life

Sade

there must have been an angel by my side
something heavenly led me to you
look at the sky
it's the colour of love
there must have been an angel by my side
something heavenly came down from above
he led me to you
he led me to you

he built a bridge to your heart
all the way
how many tons of love inside
i can't say

when i was led to you
i knew you were the one for me
i swear the whole world could feel my heartbeat
when i lay eyes on you
ay ay ay
you wrapped me up in
the colour of love

you gave me the kiss of life
kiss of life
you gave me the kiss that's like
the kiss of life

wasn't it clear from the start
look the sky is full of love
yeah the sky is full of love

he built a bridge to your heart
all the way
how many tons of love inside
i can't say

you gave me the kiss of life
kiss of life
you gave me the kiss that's like
the kiss of life

you gave me the kiss of life
kiss of life
you gave me the kiss that's like
the kiss of life

you gave me the kiss of life
kiss of life
you gave me the kiss that's like
the kiss of life

you wrapped me up in the colour of love
must have been an angel came down from above
giving me love yeah
giving me love yeah

you gave me the kiss of life
kiss of life
you gave me the kiss of life
kiss of life


sexta-feira, janeiro 28, 2011

Rain

Arte imita a vida.


Soneto da Intimidade

Nas tardes da fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.

Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma aurora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.

Vinícius de Moraes

Com uma pequena ajuda dos amigos



quinta-feira, janeiro 27, 2011

Soneto

Era manhã de setembro
e
ela me beijava o membro
Aviões e nuvens passavam
coros negros rebramiam
ela me beijava o membro
O meu tempo de menino
o meu tempo ainda futuro
cruzados floriam junto
Ela me beijava o membro
Um passarinho cantava,
bem dentro da árvore, dentro
da terra, de mim, da morte
Morte e primavera em rama
disputava-se a água clara
água que dobrava a sede
Ela me beijando o membro
Tudo que eu tivera sido
quando me fora defeso
já não formava sentido
Somente a rosa crispada
o talo ardente, uma flama
aquele êxtase na grama
Ela a me beijar o membro
Dos beijos era o mais casto
na pureza despojada
que é própria das coisas dadas
Nem era preito de escrava
enrodilhada na sombra
mas presente de rainha
tornando-se coisa minha
circulando-me no sangue
e doce e lento e erradio
como beijava uma santa
no mais divino transporte
e num solene arrepio
beijava beijava o membro
Pensando nos outros homens
eu tinha pena de todos
aprisionados no mundo
Meu império se estendia
por toda a praia deserta
e a cada sentido alerta
Ela me beijava o membro
O capítulo do ser
o mistério de existir
o desencontro do amar
eram tudo ondas caladas
morrendo num cais longínquo
e uma cidade se erguia
radiante de pedrarias
e de ódios apaziguados
e o espasmo vinha na brisa
para consigo furtar-me
se antes não me desfolhava
como um cabelo se alisa
e me tornava disperso
todo em círculos concêntricos
na fumaça do universo
Beijava o membro
beijava
e se morria beijando
a renascer em setembro.

Carlos Drummond de Andrade

Soneto

Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler

À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.

Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso

Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.

Mário Faustino

Presságio

O presságio aí está, negro presságio.
A falar-me, silente, de dores por doer
Mais doídas que todas as dores já doídas.
A dor, talvez, de nunca mais doer.
Não são dores da carne. Não só.
Nem serão dores maiores, estertórias.
São dores da alma minha, balindo, trêmula.
Dores que, antes de doer, já me doem aqui, agora.
Que resta nesta vida por doer-me?
Já não doí minhas dores todas?
E a roda da dor, acaso, pára um dia?
Em que homem vivo, cansada, ela parou?
Esse temor pressago que me assalta
É o de perder o último, derradeiro, bem que tenho.
A vida aninhada no meu corpo.
Com o prodígio de gozar e de sofrer.
Que é o que temo, eu que nada temo?
A solidão, talvez, de uma eternidade fútil, inútil?
Qual! O que me arrasa é o terror pânico
De não mais ser, nem estar, jamais aí.
Vocês todos vivendo, seus f.d.p., só eu não.

Darcy Ribeiro

terça-feira, janeiro 25, 2011

segunda-feira, janeiro 24, 2011

sábado, janeiro 22, 2011

My God



My God

Jethro Tull

People -- what have you done --
locked Him in His golden cage.
Made Him bend to your religion --
Him resurrected from the grave.
He is the god of nothing --
if that's all that you can see.
You are the god of everything --
He's inside you and me.
So lean upon Him gently
and don't call on Him to save you
from your social graces
and the sins you used to waive.
The bloody Church of England --
in chains of history --
requests your earthly presence at
the vicarage for tea.
And the graven image you-know-who --
with His plastic crucifix --
he's got him fixed --
confuses me as to who and where and why --
as to how he gets his kicks.
Confessing to the endless sin --
the endless whining sounds.
You'll be praying till next Thursday to
all the gods that you can count


Meu Deus, me dê a coragem

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.

Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.

Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.

Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.

Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.

Faça com que a solidão não me destrua.

Faça com que minha solidão me sirva de companhia.

Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.

Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.

Receba em teus braços
meu pecado de pensar.

Clarice Lispector

Torre azul

É preciso construir uma torre
– uma torre azul para os suicidas.
Têm qualquer coisa de anjo esses suicidas voadores,
qualquer coisa de anjo que perdeu as asas.
É preciso construir-lhes um túnel
– um túnel sem fim e sem saída
e onde um trem viajasse eternamente
como uma nave em alto mar perdida.
É preciso construir uma torre…
É preciso construir um túnel…
É preciso morrer de puro,
puro amor!…

Mário Quintana

Dois minutos

Por sugestão do Ugo Degani. Você consegue ficar dois minutos?

Clique aqui.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Se se morre de amor!

Longa e linda.



Se se morre de amor! — Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n’alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança!

Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d’amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio,
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro

Clarão, que as luzes no morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D’amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração — abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos,
D’altas virtudes, té capaz de crimes!
Compr’ender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D’aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
Fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!

Amar, e não saber, não ter coragem
Para dizer que amor que em nós sentimos;
Temer qu’olhos profanos nos devassem
O templo, onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis, d’ilusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compr’ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!

Se tal paixão porém enfim transborda,
Se tem na terra o galardão devido
Em recíproco afeto; e unidas, uma,
Dois seres, duas vidas se procuram,
Entendem-se, confundem-se e penetram
Juntas — em puro céu d’êxtases puros:
Se logo a mão do fado as torna estranhas,
Se os duplica e separa, quando unidos
A mesma vida circulava em ambos;

Que será do que fica, e do que longe
Serve às borrascas de ludíbrio e escárnio?
Pode o raio num píncaro caindo,
Torná-lo dois, e o mar correr entre ambos;
Pode rachar o tronco levantado
E dois cimos depois verem-se erguidos,
Sinais mostrando da aliança antiga;
Dois corações porém, que juntos batem,
Que juntos vivem, — se os separam, morrem;
Ou se entre o próprio estrago inda vegetam,
Se aparência de vida, em mal, conservam,
Ânsias cruas resumem do proscrito,
Que busca achar no berço a sepultura!

Esse, que sobrevive à própria ruína,
Ao seu viver do coração, — às gratas
Ilusões, quando em leito solitário,
Entre as sombras da noite, em larga insônia,
Devaneando, a futurar venturas,
Mostra-se e brinca a apetecida imagem;
Esse, que à dor tamanha não sucumbe,
Inveja a quem na sepultura encontra
Dos males seus o desejado termo!

Gonçalves Dias

Blackbird



Blackbird

Lennon&McCartney

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise.

Blackbird singing in the dead of night
Take these sunken eyes and learn to see
All your life
You were only waiting for this moment to be free.

Blackbird fly, Blackbird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird fly, Blackbird fly
Into the light of the dark black night.

Blackbird singing in the dead of night
Take these broken wings and learn to fly
All your life
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise
You were only waiting for this moment to arise.

Melro

Tradução: Carlos Drummond de Andrade

Melro que cantas no morrer da noite,
com estas asas rotas aprende teu vôo
A vida toda
esperaste a hora e a vez de teu vôo.
Melro que cantas no morrer da noite,
com estes olhos fundos aprende a ver
A vida toda
esperaste a hora e a vez de ser livre.
Voa, melro, voa, melro,
para o clarão da escura noite.
Voa, melro, voa, melro,
para o clarão da escura noite.
Melro que cantas no morrer da noite,
com estas asas rotas aprende teu vôo
A vida toda
esperaste a hora e a vez de teu vôo
esperaste a hora e a vez de teu vôo
esperaste a hora e a vez de teu vôo.

O Cortador de Pedras

Quando nada mais parece ajudar, vou ver o cortador de pedras martelando sua rocha talvez 100 vezes, sem que uma única rachadura apareça.

No entanto, na centésima primeira martelada a pedra se abre em duas.

Eu sei que não foi aquela que conseguiu , mas todas as que vieram antes.

Jacob Riis

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Google vs Microsoft

Você gosta de procurar lugares no Google Mapas? Conhece o Street View? Agora, dá uma olhada nisso. Parece que a briga vai esquentar...



Vida de cão


Fotos: Vanderlei Almeida | AFP

Não quero aqui minimizar a tragédia de centenas de pessoas mortas pelas condições que estavam sob a imensa chuva que caiu sobre elas. Nem a daquelas pessoas que ficaram, sem seus familiares e amigos. Mas não pude deixar de me emocionar ao olhar para a cara desse vira-lata que alguns dizem chamar Caramelo e outros dizem ser o Leão.

Todos nós temos amigos inseparáveis, amadurecidos em velhos barris feitos da mais pura madeira da fidelidade, do companheirismo, das alegrias e das tristezas. Muitos de nós também tivemos a alegria de ter amigos como Caramelo. Não passamos pela desgraça de Dona Cristina. Passamos por amarguras e apertos de toda a sorte. Ou falta dela. Mas estamos aqui pra continuar.

Caramelo continuou. Ficou ali pronto pra qualquer coisa que Dona Cristina precisasse. Deve ter ficado perdido, sem saber porque ela não saía debaixo de tanta lama. Ficou esperando. Amigo que é amigo espera. Amigo fica junto e nem repara se você tá sujo, limpo, cheiroso ou cheio de lama. Literalmente.

Caramelo é um brasileiro. Acabou de ser adotado por alguém que se apaixonou pelo seu rosto triste. Não dá pra saber se ele repetiria a história de Bobby, um skye terrier escocês que ficou quatorze anos velando o túmulo de seu dono, até sua própria morte em 14 de janeiro de 1872 e que acabou virando estátua, livro e filme da Disney.

Vida de cão. Toda uma vida de cachorro dedicada a esperar (ou velar) um amigo. Isso é que é vida de cão.


sábado, janeiro 15, 2011

Soneto LXXVII

Hoje é hoje com o peso de todo o tempo ido,
Com as asas de tudo o que será amanhã,
Hoje é o Sul do mar, a velha idade da água
É a composição de um novo dia.

À tua boca elevada à luz ou à lua
Se acresceram as pétalas de um dia consumido,
E ontem vem trotando por sua rua sombria
Pura que recordemos teu rosto que morreu.

Hoje, ontem e amanhã se comem caminhando,
Consumimos um dia como uma vaca ardente.
Nosso gado espera com seus dias contados,

Mas em teu coração pôs sua farinha o tempo,
Meu amor construiu um forno com barro de Temuco:
Tu és o pão de cada dia para minha alma.

Pablo Neruda, Cem sonetos de Amor

quinta-feira, janeiro 13, 2011

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Amor, de tarde

É uma lástima que não estejas comigo
quando olho o relógio e são quatro
e acabo a planilha e penso dez minutos
e estiro as pernas como todas as tardes
e faço assim com os ombros para afrouxar as costas
e dobro os dedos e lhes tiro mentiras.

É uma lástima que não estejas comigo
quando olho o relógio e são cinco
e sou um punho que calcula interesses
ou duas mãos que saltam sobre quarenta teclas
ou um ouvido que escuta como late o telefone
ou um tipo que faz números e lhes tira verdades.

É uma lástima que não estejas comigo
quando olho o relógio e são seis
podias aproximar-te de surpresa
e dizer-me: Como vais? E ficaríamos
eu com a mancha vermelha de teus lábios
tu com a marca azul de meu carbono.

Mario Benedetti

By mobile phone

terça-feira, janeiro 11, 2011

Blade Runner - Again

Faltam apenas oito anos para 2019. Não haverá caçadores de andróides no final da década. Mas lá pelos anos oitenta vi este filme no Cine Avenida. Devo tê-lo visto também no Cine Regente. Passei por vários cinemas atrás dele (antigamente, os filmes eram repetidos em cinemas; não havia DVD, HBO, download, Tela Quente...). Tudo bem... Assistir um filme dezoito vezes é ridículo, mas parei de contar nesse número. Aí vieram versões, como The Final Cut, etc. Vi de novo.

Acabei me apaixonando pela trilha, como sempre fiz em filmes. Visual ligado ao auditivo que sou. Pesquisei Vangelis. Ouvi Vangelis de todas as maneiras e de todas as trilhas sonoras que ele fez. Tive de escutar que aquilo era música de motel, com aquele saxofone básico a envolver coxas e peitos. Tudo bem...

E não é que estou vendo Blade Runner de novo? Pela nªsima vez. Qual diferença? Agora vejo pelo DVD gravado pelo meu filho Ugo Degani. Não sei o que fez ele fazer um download, ocupar seus sagrados espaços de HD, queimar um DVD e guardar em sua filmoteca.

E mais uma vez fico envolvido no clima, na música, na fotografia. Na beleza absurda da Sean Young, nos origamis, no unicórnio, nas cenas noturnas tipo filme noir, nas dúvidas existenciais de ser um replicante ou um humano. Naquele assunto de sempre entre Criador e criatura. De Deus e de Homem. De ter apenas quatro anos de vida ou de quantos o Criador determinar.

Filme pra ver mais de dezoito vezes.






Poetas

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Florbela Espanca

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Canta demais!

Vídeo-dica do Luciano Araújo. Palavras dele: "Pensa assim: é louca, drogada, escrota, prostituída, fedida e feia... Se fosse normal não servia de nada."





domingo, janeiro 09, 2011

O Desaparecido

Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.

Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.

Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.

Rubem Braga

sábado, janeiro 08, 2011

domingo, janeiro 02, 2011

O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana