sábado, janeiro 09, 2010

Cedo?

Esse texto saiu no The New York Times e achei interessante colocá-lo aqui. Num post lá atrás falei sobre o questionamento de ser tarde. Nesse texto, o questionamento é se é cedo.

É um outro aspecto interessante.

Deixar para amanhã o o que se pode aproveitar hoje pode ser um vício

Por John Tierney
The New York Times

De uma vez por todas, cientistas sociais descobriram uma falha na psique humana que não será tediosa de corrigir. Você pode nem precisar de um grupo de apoio. Você pode até tentar por conta própria, começando com esta simples resolução de ano novo: divirta-se... agora!

Em seguida, você só precisa da força para descontar seus vale-presentes, beber aquela garrafa especial de vinho, resgatar suas milhas aéreas e tirar aquelas férias que você sempre prometeu a si mesmo. Caso sua determinação enfraqueça, não sucumba à culpa ou à vergonha. Reconheça quem você é: um procrastinador de prazer em recuperação.

Parece estranho, mas na verdade essa é uma forma de procrastinação bastante disseminada – pergunte às linhas aéreas e outros comerciantes que economizam bilhões de dólares anualmente com certificados de compra não-resgatados. Ou aos poetas que continuam produzindo exortações a aproveitar o dia e colher botões de rosas.

Mas levou um tempo para psicólogos e economistas comportamentais analisarem essa condição. Agora eles começaram a explorar o estranho impulso de deixar para amanhã o que poderia ser aproveitado hoje.

Por que, por exemplo, é tão difícil encontrar tempo para visitar marcos históricos em seu próprio quintal?

Pessoas que se mudaram para Chicago, Dallas e Londres visitam menos marcos históricos locais ao longo de seu primeiro ano do que o turista médio visita numa estada de duas semanas, segundo um estudo conduzido por Suzanne B. Shu e Ayelet Gneezy, professores de marketing na Universidade da Califórnia, respectivamente em Los Angeles e em San Diego.

Os habitantes de Chicago no estudo visitaram mais marcos em outras cidades do que na sua, e mesmo sua quantidade relativamente pequena de turismo era feita basicamente para entreter visitantes de fora. Fora isso, o único momento em que os moradores de Chicago corriam para ver os marcos locais era quando estava prestes a se mudar para outra cidade, quando o prazo final inspirava paixões repentinas por passeios arquiteturais e visitas a museus.

Quando não há prazos imediatos, somos suscetíveis a adiar uma ida ao zoológico neste final de semana porque deduzimos que estaremos menos ocupados no próximo – ou no seguinte, ou no próximo verão. Esse é o mesmo tipo de pensamento que nos faz guardar o vale-presente no armário porque esperamos ter mais tempo para compras no futuro.

Estamos tentando fazer uma análise de custo-benefício do tempo versus o prazer ou o dinheiro a ser ganho, mas não somos precisos em nossas estimativas de "negligência de recursos", como é definido por Gal Zauberman e John G. Lynch. Esses economistas comportamentais descobriram que, quando as pessoas tinham de prever quanto dinheiro e tempo adicionais teriam no futuro, elas realisticamente supunham que o dinheiro seria curto – mas esperavam que tempo livre se materializasse magicamente.

Portanto, você tem maiores chances de concordar com um compromisso no próximo ano, como fazer um discurso, que você recusaria caso tivesse de encontrar tempo para ele no próximo mês. Isso produz o que os pesquisadores chamam de efeito "Sim... Droga!": quando chega a hora do discurso no ano seguinte, você descobre amargamente que ainda está ocupado como nunca.

Shu e Gneezy demonstraram outro efeito dessa falácia, distribuindo vale-presentes para troca por ingressos de cinema e bolos franceses. Algumas pessoas receberam certificados que expiravam em duas ou três semanas; outros valiam por seis a oito semanas.

As pessoas que receberam os certificados de validade mais longa ficaram mais confiantes de que resgatariam os presentes – uma suposição bastante lógica, dado todo o tempo adicional de que dispunham. Todavia, eles simplesmente ficaram adiando, e acabaram ficando mais inclinados a deixar de resgatar os presentes do que as pessoas com os certificados de curto prazo.

Uma vez que você começa a procrastinar o prazer, isso pode se tornar um processo autoperpetuador caso você fixe em algum nirvana imaginado. Quanto mais você espera para abrir aquela garrafa de vinho premiada, mais especial tem de ser a ocasião.

Se está determinado a obter o máximo absoluto daquelas milhas aéreas, você pode acabar desperdiçando-as, como Shu descobriu num experimento oferecendo às pessoas uma chance de usar cupons de desconto na compra de uma série de passagens de avião. Quando os sujeitos eram informados de que teriam uma chance de um voo grátis valendo mil dólares, eles desprezaram prêmios de menor valor e se agarraram a seus cupons por tanto tempo que, no fim, tiveram de usá-los para voos muito mais baratos.

"As pessoas podem se tornar exageradamente focadas num ideal", disse Shu. "Mesmo quando sabem que é improvável, elas ficam tão focadas no cenário perfeito que bloqueiam todo o resto. Ou elas preveem que irão se lamentar mais tarde caso aceitem a segunda melhor opção para perceber que a melhor ainda está disponível. Mas essas pessoas não percebem que o arrependimento serve aos dois lados. Elas terminarão com algo pior e se arrependerão de não terem aceitado a segunda melhor".

Porém, mesmo se você conhece toda essa pesquisa, como aplicar essas lições? Como você pode evitar a tentação de postergar o prazer? (Você pode oferecer sugestões clicando aqui).

Uma estratégia imediata, segundo Shu, é trocar rapidamente quaisquer vale-presentes recebidos nessa temporada de festas. "O maior perigo é eles serem esquecidos e expirarem", disse ela. "Um dos melhores presentes que você pode dar a quem lhe presenteou é usá-lo rapidamente, e então dizer a ele o quanto você gostou. O arrependimento por não usar o presente será maior do que o arrependimento de usá-lo numa ocasião imperfeita, para você e especialmente para a pessoa que o deu".

Outra tática é definir prazos para si mesmo. Resgate as milhas até o verão, mesmo que você não possa sair numa volta ao mundo com elas. Em vez de esperar por uma ocasião especial para se entregar, crie uma. Shu cita positivamente o pioneiro trabalho terapêutico de Dorothy J. Gaiter e John Brecher, que, durante a década passada, usaram sua coluna sobre vinhos no Wall Street Journal para proclamar o último sábado de fevereiro como "Noite do Abra Aquele Vinho".

Mas você não precisa esperar até 27 de fevereiro. Lembre-se do conselho oferecido no filme "Sideways" ao personagem Miles, que guardava uma garrafa de Cheval Blanc 1961 há tanto tempo que o vinho já corria o risco de estragar. Quando Miles diz estar esperando por uma ocasião especial, sua amiga Maya coloca a questão em perspectiva:

"O dia em que você abrir um Cheval Blanc de 1961, essa é a ocasião especial".

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