Reproduzo aqui o texto de Cássio Leandro Dal Ri Barbosa, que foi originalmente publicado na coluna Observatório, no G1.
O Caldeirão da Grande Nuvem, ou um estica-e-puxa cósmico
Você consegue imaginar como seria uma maternidade só de bebês gigantes? Meio difícil, mas imagine agora que são estrelas-bebês-gigantes. Mais difícil? Então dê uma olhada nesta última imagem do Hubble. Voilà! Aqui está o maior berçário de estrelas de alta massa conhecido nas nossas vizinhanças.
A Via-Láctea forma um sistema com a galáxia de Andrômeda que domina um aglomerado de galáxias próximas, chamado de Grupo Local. Essas duas galáxias são as maiores das redondezas e as que têm mais matéria desse sistema. Ao redor delas, orbitam dezenas e dezenas de outras galáxias satélites. Bem perto da nossa Via-Láctea existem duas galáxias irregulares que estão bem próximas: a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães. Quem já as viu (é preciso um local bem escuro, no Hemisfério Sul) vê mesmo no céu duas manchas parecidas com nuvens. Essas galáxias estão sofrendo o puxão gravitacional da Via-Láctea e elas já a atravessaram algumas vezes. Tenho um colega que já sugeriu que as extinções em massa na Terra poderiam estar associadas a esses eventos, mas isso é outra história.
O fato é que esse puxa-repuxa que lembra bem um cabo de guerra deforma tanto as Nuvens de Magalhães quanto a Via-Láctea, mas como a massa das Nuvens é bem menor, as coitadas sofrem bem mais. O gás contido nelas se comprime, é “esticado”, esquenta e esfria por períodos de milhões e milhões de anos. Resultado? O maior berçário de estrelas de alta massa conhecido nas nossas vizinhaças!
A imagem do Hubble mostra o aglomerado de R136 dentro do complexo de 30 Doradus. Cada um destes pontos azuis corresponde a uma estrela com dezenas de vezes a massa do Sol, algumas com mais de cem vezes! Cada uma delas emite um vento de partículas poderoso que vai limpando o meio em que nasceram, por isso esse formato de buraco. No meio deste gás todo, mais estrelas estão se formando e depois de alguns milhões de anos devem aparecer depois de limparem o meio em que estão.
O aglomerado tem por volta de alguns milhões de anos de vida e logo, logo, esses pontos azuis vão começar a explodir. “Logo, logo” significa mais alguns milhões de anos, pois a vida dessas estrelas não chega a 5 milhões de anos às vezes. Imagina só essas estrelas explodindo como supernovas! Um belo show pirotécnico no céus do Sul.
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