domingo, outubro 25, 2009

Big Fish, Dr. Laerte e outras histórias


Meu pai gostava muito de pescar e muitas vezes ele ia ao rio Tejuco, na fazenda do Dr. Laerte, que foi um médico de Uberlândia que acabou virando nome de rua no bairro Santa Mônica. Muito mais que rua, o nome dele virou lenda de um exímio contador de histórias. Na verdade, de um contador de mentiras, assim era o que diziam... Meu pai contava muitos desses “causos”. Alguns como o do relógio de pulso, daqueles de dar corda, que ficou pendurado num galho que o vento se incumbiu de balançar e fazer com que um outro galho lhe fizesse rodar a pecinha que dava corda e o fazia funcionar. Quando o Dr. Laerte voltou ao lugar, o relógio marcava as horas pontualmente!...

Muitos anos depois de meu pai ter ido embora, assisti o filme Big Fish, do Tim Burton. Este cineasta sempre foi um cara fora do padrão e suas histórias, seus filmes, sempre deixaram claro o quanto ele sabe contar histórias. No filme, um pai ausente vive a contar histórias, mais para mentiras, como as do Dr. Laerte. Um pai que conta histórias para um filho, que muitas vezes não tem paciência para ouvi-las. As histórias do Tim Burton, do Edward Bloom, do Dr. Laerte, do “seu” Adelmo, todas elas se entrelaçam quando vejo este filme. Também me coloco no lugar do filho, ao me lembrar quantas vezes tive impaciência de escutar pela enésima vez uma história que meu pai repetia. Como no filme, eu pensava que poderia repeti-la da mesma maneira que ele. Hoje sei que nunca conseguiria.

A grande beleza do filme é a capacidade do Tim Burton em captar essas coisas que todos nós trazemos na lembrança, que nos remetem a alguma história de um pai, de uma mãe, de lembranças da família e que já não existem mais. A cena das pipocas é um exemplo de como há momentos em nossas vidas que ficam tão marcados que deveriam mesmo ter sido paralisados como mostrado na cena. E como no final do filme, muitas vezes o mais importante não é se certificar da autenticidade das narrativas, mas de sim da poesia que elas contêm. Assim, como no filme, muitas vezes, a poesia de uma narrativa é muito mais importante e tem muito mais valor que uma realidade triste, entubada e afundada numa cama de hospital. A vida só se torna bela se narrada com poesia.






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