quarta-feira, dezembro 31, 2008

Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria

Tem partes da Bíblia que gosto muito. Uma delas é a Epístola de São Paulo aos Coríntios. Quando eu era menino, ouvia o sermão e ficava impressionado com as palavras. Muitos anos depois, Renato Russo adaptou a letra, colocou algo de Camões, algo de Láo-Tsé e fez uma música linda chamada Monte Castelo, que — talvez não por acaso — é o nome de um lugar na Itália palco de uma batalha que os brasileiros da FEB lutaram e sofreram. Acho que no último dia deste 2008 essas palavras têm um efeito inebriante na alma.

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor.”

Capítulo 13 da epístola de São Paulo aos Coríntios





terça-feira, dezembro 30, 2008

Desejo partir

Fernando Pessoa é sempre bom em qualquer momento. Não é o momento que o recomenda, pois ele dispensa isso. Cada um que o lê, faz do momento o seu.
Quase ao fim deste ano, leio este poema e entendi que devia colocá-lo aqui. Cada um que o ler que faça desse momento, o seu.

Desejo partir
Fernando Pessoa

O meu desejo é fugir.

Fugir ao que conheço,
fugir ao que é meu,
fugir ao que amo.
Desejo partir, não para as Índias impossíveis,
ou para as grandes ilhas ao Sul de tudo,
mas para o lugar qualquer
aldeia ou ermo

que tenha em si o não ser este lugar.
Quero não ver mais estes rostos,
estes hábitos e estes dias.

Quero repousar,
alheio do meu fingimento orgânico.
Quero sentir o sono chegar como vida,
e não como repouso.

Uma cabana à beira mar,
uma caverna, até,
no socalco rugoso de uma serra,
me pode dar isto.
Infelizmente só a minha vontade
não pode dar.


domingo, dezembro 28, 2008

Pra recomeçar

Toda idade tem prazer e medo. E sempre se erra feio. E bastante. Às vezes, não dá pra perceber se o erro é erro ou acerto. Ninguém nos dirá. Às vezes, olhamos pra trás e vemos apenas os acertos. Às vezes, apenas os erros. Acabamos sempre misturando os dois.

Mas não interessa. Todo fim de ano é assim. Sempre queremos algo melhor. A isso chamamos esperança, sentimento impossível de se desassociar de outro chamado desejo. Eu desejo.

Amor Pra Recomeçar
Roberto Frejat

Eu te desejo não parar tão cedo
Pois toda idade tem prazer e medo
E com os que erram feio e bastante
Que você consiga ser tolerante
Quando você ficar triste
Que seja por um dia, e não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom,
mas que rir de tudo é desespero

Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar
Eu te desejo, muitos amigos
Mas que em um você possa confiar
E que tenha até inimigos
Pra você não deixar de duvidar
Quando você ficar triste
Que seja por um dia, e não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom,
mas que rir de tudo é desespero
Desejo que você tenha quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar

Eu desejo que você ganhe dinheiro
Pois é preciso viver também
E que você diga a ele, pelo menos uma vez,
Quem é mesmo o dono de quem

Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Eu desejo que você tenha quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar



sábado, dezembro 27, 2008

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Rescaldo

Ou é o cisco no olho
Ou o estrepe no dedo
É sempre o aperto no peito
É sempre o sufoco do medo

Ou é o corte no pé
Ou um lábio trincado
É sempre o cerco ao jeito
De se olhar o passado

Ou é o amargo na boca
Ou um espinho na mão
O que sem dolo foi feito
Mas ficou no coração

terça-feira, dezembro 23, 2008

Sem título

Quis olhar,
mas a noite ficou meio cinza,
meio branca,
e não pude ver
o Cruzeiro do Sul.

Quis voar,
voar sem plano de vôo
por cima das nuvens
pra poder ver
o Cruzeiro do Sul.

Quis brincar
de astrônomo, Galileu.
A estrela no céu,
O telescópio, eu,
e ver
o Cruzeiro do Sul

Quis viajar
por cima das nuvens,
das fronteiras
ver a estrela dos brilhos,
dos olhos.
Mas meus pés fincam o chão
e meus olhos
não alcançam o Sul.


domingo, dezembro 21, 2008

Ipê Amarelo

A noite se refresca
Pra ver a nudez da Lua,
Pra ver com olhos de estrela
A Lua nua
Na sua esquina noturna,
Em perfume de flor
Evaporando na brisa
Os espíritos do dia, da tarde.

Tomando o rumo do céu
Os olhos de mar, de longe,
Os olhos do ar, das montanhas,
Os olhos que vivem no vale
Formado por duas serras
Naquelas terras
Onde nunca pisei com os pés.
Apenas com o coração.



quinta-feira, dezembro 18, 2008

sábado, dezembro 13, 2008

Sem título

Tempestades em seus olhos
Tempo não mais
Mar não mais
Tempestades em seus olhos
Céu negro do Atlântico
Não mais
E os olhos, e os olhos...

sexta-feira, dezembro 12, 2008

domingo, dezembro 07, 2008

Still got the Blues

Still got the Blues é uma das músicas que eu poderia listar dentro de uma determinada categoria. Pelo seu solo de guitarra, Gary Moore acabou colocando seu nome entre aqueles que eu dei atenção. Não que isso seja lá grande coisa. Mas ela sempre me acompanhou, sempre esteve entre meus CDs e agora, entre meus mp3s. Quem já escutou o solo, sabe do que falo.
Mas agora fico sabendo que um tal de Jürgen Winter ganhou em um tribunal de Munique um processo de plágio contra Gary Moore. Segundo o apurado, Jürgen compôs uma música — Nordrach — para um grupo alemão chamado Jud's Gallery em 1974. Still got the Blues é de 1990. Moore alegou que não foi proposital, mas admitiu ter estado na Alemanha muitos anos antes de compor Still got the Blues. Dizem que a memória musical de um profissional pode lhe permitir lembrar, anos depois, um trecho ouvido por acaso. Foi isso que aconteceu? Sabe-se lá...
O que eu posso dizer é que se não fosse Gary Moore, este solo maravilhoso provavelmente não teria chegado aos meus ouvidos. Ou alguém acha que um grupo lá do meio da Alemanha vai ter a mesma repercussão de um norte-irlandês?
Nos links aí embaixo dá pra perceber que é realmente igualzinho o tal solo... Isso não reduz a maravilha que é escutá-lo uma vez após outra e deixar a alma se encher de alegria musical. Tem gente que sabe do que eu falo.







Still got the Blues (Ainda fico triste)

Costumava ser tão fácil dar o meu coração
Mas descobri do modo mais difícil
Há um preço que se tem que pagar
Descobri que o amor não era amigo meu
Eu já deveria saber isto, após tantas vezes

Tanto tempo, foi há tanto tempo
Mas ainda fico triste por sua causa

Costumava ser tão fácil apaixonar-me novamente
Mas descobri o modo mais difícil
É uma estrada que leva à dor
Descobri que o amor
Era mais que apenas um jogo
Você está jogando para vencer
Mas perderá do mesmo jeito

Tanto tempo, foi há tanto tempo
Mas ainda fico triste por sua causa

Tantos anos desde que vi seu rosto
Mas aqui no meu coração há um espaço vazio
Onde você costumava estar

Tanto tempo, foi há tanto tempo
Mas ainda fico triste por sua causa

Embora os dias venham e vão
Há uma coisa que sei
Ainda fico triste por sua causa