Não tive a oportunidade de guardar lembranças de meu irmão. Ele se foi quando meus três anos tinham acabado de se completar. De certa forma, sua aura ficou comigo. Quis mudar o mundo como ele. A diferença é que ele não falhou neste intento. Mas ele se foi antes de me contar como eu poderia fazer isso.
Por fim, minhas lembranças dele acabaram se tornando as lembranças deste dia. Ir buscar água num tanque para que minha mãe limpasse aquele bloco retangular de cimento pintado com o nome dele me parecia algo estranho. Minha idade não permitia ir além daquela visão, de minha mãe esfregando um pedaço de pano ali, cuidando, tornando aquele pedacinho sólido em algo etéreo e eterno, enchendo de água jarros que trazia de casa para colocar flores simples e bonitas.
Mas foi vendo minha mãe ali, dedicada àquele filho ausente, que me fez sentir cada vez mais sua falta. Falta de alguém que não tive a oportunidade de guardar lembranças. Foi ali que comecei a sentir saudades de algo que não vivi. Sentir saudades.
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