sexta-feira, agosto 22, 2008

Um de Quintana

Quando conheci a poesia de Quintana eu já não era tão jovem em poesia. Muitos anos já tinham passado desde que arrisquei as primeiras composições em versos, em rimas, em textos soltos. Talvez por isso mesmo eu sempre o vi como um poeta maduro, que fazia poesia madura. Diferente da poesia apaixonada, ardente e arrebatadora de Neruda, a de Quintana fala de um coração profundo, não menos apaixonado, mas com um certo ar observador, no seu canto, até mineiro demais para um poeta gaúcho. Esse poema que apresento aí embaixo é de uma beleza assim, como disse aí em cima. Talvez algumas pessoas ainda jovens em poesia ou ainda jovens não sintam as palavras do poema com o mesmo sentido que as não tão jovens. Talvez umas pessoas mais jovens que outras possam por estes versos lindos entenderem um pouco o que um poema pode dizer. O que um coração profundo quer gritar.


“Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste, desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos…
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender nada, numa alegria atônita…
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.”

Mario Quintana

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